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Operação Pegasus é deflagrada em 10 estados brasileiros no combate a crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa

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Coletiva de Imprensa da Operação Pegasus - Foto: Polícia Civil / Alexandre Nervo / DCS

A Polícia Civil, através da Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), deflagrou nesta quarta-feira (22), a Operação Pegasus, em dez Estados Brasileiros. A ação tem o objetivo de reprimir delitos de lavagem de capitais e de organização criminosa oriundos do narcotráfico gaúcho e seus associados distribuidores estaduais e nacionais. A investigação iniciou a partir de apreensões de fuzis e cocaína no bairro Cascata, em Porto Alegre, junto a facções regionais.
Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, no decorrer da investigação e no dia de hoje, foram solicitadas e cumpridas 502 medidas cautelares, dentre quebras de sigilos bancários, fiscais, financeiros, bursátil, telemáticos, mandados de busca, prisões, indisponibilidade de bens móveis, imóveis e ativos financeiros/mobiliários na bolsa de valores e em criptomoedas. No dia de hoje estão sendo cumpridas também 21 prisões, dentre preventivas e temporárias, e 63 mandados de busca, em um total de 58 investigados. 

Quinze pessoas foram presas, cinco fora do Estado e 10 no RS, além de terem sido apreendidos aproximadamente 125 mil em espécie, determinada quantidade de dólares e pesos, cheques, apetrechos e embalagens para o tráfico. Também foram apreendidas três armas de fogo.

Estão sendo utilizados o total de 400 policiais civis nos dez Estados, com apoio operacional da DINARC/Denarc, SEOPI (Secretaria de Operações Policiais Integradas) do Ministério da Justiça, através do Projeto M.O.S.A.I.C.O., viabilizando o trabalho conjunto da Polícia Civil do RS com a Polícia Civil dos demais Estados, GIE/PCRS, Divisão de Inteligência Financeira, DRLD, DRV e DR Deic, CORE/PCRS, DPM/PCRS, Divisão de Apoio Aéreo, Delegacia Regional Rio Grande, DP Santa Vitória do Palmar e Draco Rio Grande (DPI), Polícias Civis dos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Rondônia, Amazonas, Brigada Militar (Presídios) e Susepe.

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Operação Pegasus - Foto: Polícia Civil / Alexandre Nervo / DCS

A investigação:


A investigação, que durou um ano, apurou que duas facções gaúchas, com lideranças na zona leste da Capital e da grande Porto Alegre, estão em associação a uma grande facção paulista, para a distribuição maciça de cocaína e maconha em solo gaúcho, bem como integrando uma rede nacional de lavagem de dinheiro do narcotráfico interestadual e à respectiva distribuição de lucros.
A investigação apontou a existência de células interligadas nestes 10 Estados (e outros sob investigação), todas ligadas a um polo de operadores financeiros pessoas físicas e jurídicas no Estado de São Paulo, alvo de mandados e prisões no dia de hoje, com indícios de ligação ao alto escalão/sintonia fina.
A organização criminosa investigada movimentou em um ano quase 348 milhões de reais (R$ 347.385.656,90). Além de indisponibilidade de ativos em moeda corrente nacional e dólares, foram identificadas exchanges/corretoras com criptomoedas dos alvos e estão com bloqueios de ativos no dia de hoje.
A DRLD/Denarc espera que os sequestros hoje se aproximem deste valor, ao serem bloqueadas 93 contas bancárias, ações na bolsa de valores e em 41 exchanges/corretoras, visto que o modus operandi principal da quadrilha é uma lavagem de capitais sofisticada, não fixando grande patrimônio imobiliário em nome próprio ou de laranjas, nem muitos veículos, mas sim usando o sistema financeiro nacional com centenas de transações bancárias diárias dissimuladas, pulverização, fracionamento, smurfing, uso de cheques ao portador para saques em espécie em vários Estados, fronteiras, zonas portuárias, uso de bancos digitais com dezenas de transações diárias em um mesmo CPF ou CNPJ para burla a fiscalizações administrativas, uso de financeiras, depósitos e saques em lotéricas, mescla de ativos ilícitos e lícitos em empresas reais, integralização de capital espúrio em algumas destas pessoas jurídicas, criação de transportadoras e exchanges próprias, uso de criptoativos e câmbio de dólar no sul do Rio Grande do Sul, pagamentos a transportadores de drogas nas fronteiras do Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amazonas, bem como junto aos Portos de Paranaguá/PR e Rio Grande/RS. A finalidade é circular dinheiro de forma dissimulada, para chegar a destinos finais, em espécie via sistema financeiro tradicional (com emaranhado de transações bancárias propositais) e criptomoedas, evitando perdas imobiliárias por ações policiais, orientando-os a não comprarem imóveis ou veículos de luxo para não ostentarem e chamar a atenção de autoridades. Ainda assim, estão sendo indisponibilizados 30 veículos e quatro imóveis, além dos valores apreendidos em espécie no decorrer da investigação (total aproximado de 3 milhões de reais). Cerca de 101.800 transações bancárias ilícitas foram encontradas e analisadas.
As cidades abrangidas na operação são Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Eldorado do Sul, Santa Vitória do Palmar, Chuí, Garopaba/SC, Matinhos/PR, Palotina/PR, Franco da Rocha/SP, Francisco Morato/SP, Ponta Porã/MS, Pouso Alegre/MG, Goiânia/GO, Salvador/BA, Porto Velho/RO e Humaitá/AM.
Foi comprovado, nos mesmos moldes da Operação Irmandade, da DRLD/Denarc em 2021, que facções gaúchas enviam pagamentos de logística e distribuição de lucros à facção paulista. Na operação de hoje, ainda mais comprovado tal fato, visto que identificado o núcleo financeiro principal em São Paulo.
Os indivíduos usam empresas reais para a mescla, devidamente comprovada nesta fase do crime de lavagem de capitais, sendo que estão sendo bloqueados ativos destas empresas em São Paulo e Mato Grosso do Sul. Também realizaram, durante a investigação, milhares de transações bancárias para o afastamento, mediante dissimulação, usando de tipologias de fracionamento para burla a fiscalizações (valores pouco abaixo de 10, 50 e 100 mil) e smurfing, remessas em baixos valores em muitos casos (usando correspondentes lotéricos, bancos digitais, saques em espécie, câmbio dólar, saques em praças de fronteira e portos após emissão de cheques ao portador, criação de pessoas jurídicas interestaduais de fachada para gerenciamento de contas direto de São Paulo e recebimento de créditos de traficantes gaúchos e nacionais, dentre outras condutas sofisticadas).
De forma simultânea, diariamente, entre toda a gama de gerentes e laranjas - operadores de vulto - passavam os créditos espúrios de um banco para outro, em contas de sua própria titularidade, entre diferentes bancos tradicionais, digitais e exchanges de criptomoedas, para depois enviar a outros comparsas, com o fito de criar um emaranhado doloso de transações bancárias para afastar da origem ilícita e tentar impedir rastreio contábil até a chegada ao destinatário final, que passava a usar o valor branqueado em espécie.
Nas células gaúchas, além de operadores/gerentes da zona leste de Porto Alegre, bairros Cascata, Zona Sul, e outra facção da Grande Porto Alegre identificados, estão sendo alvos doleiros do sul do estado, que recebiam os valores da célula de São Paulo, após tais ativos saírem dos gaúchos, para retornar ativos já branqueados a estas facções (após o núcleo paulista fazer circular entre si e nos demais alvos dos outros 9 Estados), em espécie - moeda corrente nacional e dólar. Paralelo a isso, os doleiros do Sul do Estado ainda enviavam créditos a uma grande Exchange de criptomoedas, que também recebe créditos dos paulistas presos no dia de hoje, formando um ciclo vicioso de dissimulações/ocultações no sistema financeiro nacional.
Ainda, em relação ao núcleo de doleiros do Sul do Estado alvos hoje, total de cinco, estes recebem valores da célula de São Paulo, após traficantes gaúchos terem para lá enviado, retornando os ativos após os afastamentos e transações bancárias pulverizadas realizados nos demais Estados. Ao receberem, sacam em espécie, ou trocam por dólar, devolvendo aos narcotraficantes gaúchos, bem como também reenviam valores para exchanges de criptomoedas, onde os núcleos paulistas novamente transacionam com estas, em um círculo vicioso e milionário.
Durante a investigação, um grande operador logístico gaúcho e financeiro foi preso com 1,5 tonelada de maconha e R$ 500 mil reais em espécie pela 4ª DIN/Denarc, sendo alvo de nova prisão preventiva no dia de hoje, bem como apreendidos na zona leste da capital, em outra ação, fuzis, munições e cocaína pela 2ª DIN/Denarc - a apreensão em espécie deste dinheiro comprova o modus de lavagem explicado acima.
Suspeita-se que somente este alvo teria movimentado cerca de 8 toneladas de drogas ao estado, através da transportadora de Ponta Porã/MS, também alvo no dia de hoje com bloqueio de bens da pessoa jurídica e prisão de seu sócio.
Somente os doleiros presos no dia de hoje movimentaram cerca de 30 milhões de reais para a Organização. Outro alvo de hoje, um gerente financeiro preso em São Paulo, movimentou 55 milhões em seis meses em suas contas pessoa física e jurídica neste Estado, além de manusear as contas de empresas em Ponta Porã/MS, realizando mescla de valores nas empresas.
As empresas que tiveram provas cabais desta mescla e em investigação são do ramo de transportes e serviços de portaria; ainda sob investigação também estão revenda de veículos, aviação, explosivos, embarcações e pescados, nos 9 estados. A maioria das pessoas jurídicas investigadas são localizadas em áreas de fronteira e Portos. As investigações demonstraram que a organização desarticulada no dia de hoje realizava distribuição maciça de drogas no estado, e a partir da célula paulista hoje presa, pagavam operadores logísticos em todo o país, com suspeita para a entrega nos estados e para a Europa (através da célula baiana também presa no dia de hoje e alvo gaúcho morador do Paraná).
O modus operandi principal da quadrilha não é fixar patrimônio imobiliário, mas sim usar de contas de passagem, manusear dinheiro em espécie, esconder ativos em contas bancárias de financeiras, bancos digitais e exchanges (criptoativos), câmbio dólar, até chegar ao destino final.
AOperação de hoje se interliga com as investigações dos líderes de primeiro escalão alvos da Operação Irmandade e Magna Ópera, pois foi onde se descortinou a associação a nível nacional entre os grandes traficantes gaúchos e de outros estados, pois o principal operador financeiro daquela, também pagava a esta célula paulista, além de existirem outros indiciados em comum nestas duas – Magna Ópera onde restou abrangida fazenda de 42 milhões de reais em Mato Grosso e indiciado o grande líder estadual de uma organização criminosa gaúcha que surgiu após morte do fundador nos anos 2000.
Como forma de dissimular o branqueamento de ativos ilícitos, outra modalidade era os descontos de “cheques” emitidos por eles mesmos, como forma de evitar o transporte em estradas (evitando abordagens das polícias rodoviárias) - emitiam os cheques da praça de São Paulo (após receber os ilícitos dos narcos gaúchos e nacionais) e sacavam em agências de Ponta Porã/MS após se deslocarem até lá - somente em tal modalidade sacaram, de forma fracionada, com períodos de intervalos para não chamar a atenção, cerca de 5 milhões de reais, devidamente comprovados nos autos, com provas no Inquérito da presença física dos 3 alvos paulistas nas agências de Ponta Porã e São Paulo. Com isso, suspeita-se que realizavam pagamentos às bases da facção nacional nas fronteiras, bem como pagamentos a operadores logísticos que trazem drogas dos países vizinhos, incluindo ao Rio Grande do Sul.
Um operador gaúcho preso hoje, morando no estado do Paraná, realizava pagamentos e transportes de valores ao Porto de Paranaguá/PR, sendo inclusive flagrado com R$ 478.700,00 reais em espécie em direção a este Porto recentemente, com suspeita de operar também em Rio Grande/RS, além de enviar créditos da mercancia de drogas interestadual diretamente às empresas ligadas à célula paulista, além de ser o suspeito de criar empresas reais e fantasmas para a facção nacional. Semana passada foi preso preventivamente em São Paulo um alvo da Operação Irmandade, foragido há um ano, comparsa deste, que criava tais empresas para a facção nacional, onde traficantes gaúchos depositavam valores.
Dois alvos do dia de hoje, empresários da Bahia, são suspeitos de transportar drogas no Brasil e pagar à célula paulista associada aos gaúchos tendo, inclusive, já sido presos com 30kg de cocaína dentro de sua empresa na cidade de Salvador; nesta ocasião eram investigados por enviar cocaína para a Europa.
Conforme o Diretor de Investigações, delegado Alencar Carraro, o Denarc vem realizando estas Operações Policiais visando coibir a associação de facções gaúchas a outras de São Paulo, evitando a instalação e a prática de crimes no Estado por parte destas.
Segundo o Diretor-Geral do Denarc, delegado Carlos Henrique Braga Wendt, foi uma investigação complexa, que comprovou se tratar de uma lavagem de dinheiro sofisticada, com prova de mescla e integralização de capital em empresas, sendo a meta do Departamento focar nas grandes lideranças estaduais, onde mais de R$ 100 milhões já foram indisponibilizados e apreendidos entre 2019 a 2022.

Polícia Civil RS